Vídeo: PM explica ao telefone porque liberou condutor de Porsche; veja

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São Paulo — A câmera corporal da policial militar Dayse Aparecida Cardoso Romão (assista abaixo) registrou o momento em que ela explica, ao telefone, os motivos para liberar, sem escolta, o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, logo após ele provocar um acidente com morte no dia 31 de março em São Paulo.

Fernando Filho dirigia um Porsche a mais de 156 km/h quando provocou o acidente, que aconteceu na Avenida Salim Farah Maluf, zona leste paulistana. O empresário se entregou à polícia no fim da tarde desta segunda-feira (6/5), após ficar foragido por três dias.


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Logo após atender a ocorrência, a PM foi com seu parceiro até o Hospital do Tatuapé, onde constataram a morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos — ele teve seu Renault Sandero atingido pelo Porsche do empresário.

No momento em que entra na unidade de saúde, a PM deixa a câmera corporal no painel da viatura por cerca de 10 minutos. Ao retornar, ela fala ao telefone e o equipamento registra trechos da conversa. Durante o diálogo, a policial explica a um colega os motivos que a levaram a liberar o empresário do local do acidente.

Dayse afirma que a mãe de Fernando, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, de 45 anos, se prontificou a levar o filho ao hospital, como foi registrado pela câmera corporal da policial no local do acidente. Daniela, porém, não fez o combinado. O empresário não foi a nenhuma unidade de saúde e só se apresentou à Polícia Civil mais de 36 horas após o crime.

“Lógico, não vou falar: ‘Não, não vai socorrer’, mas ele é o condutor. Teve testemunha que disse que aparentemente ele foi o responsável pelo acidente e ele saiu do local. Então assim: ele saiu pra ser socorrido. Então a gente vai lá em outro pronto socorro para ver se realmente ele está lá, se foi atendido, como é que está”, diz trecho da conversa de Dayse.

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Ela ainda comenta, segundo registrado pela câmera corporal, que havia conversado com Fernando e ele “estava bem, reclamando de dor, mas estava bem”.

Corrupção passiva

Como revelado pelo Metrópoles, na mesma denúncia em que pediu a prisão preventiva do empresário, a promotora Monique Ratton, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), defendeu que a policial militar que liberou o motorista do Porsche da cena do acidente fosse investigada por suspeita de corrupção passiva.

A promotora aponta “possível responsabilidade criminal” da PM Dayse e pediu o compartilhamento de provas, como cópias das gravações das câmeras corporais, das declarações dos policiais e do boletim de ocorrência, com a Promotoria de Justiça Militar, pelo fato de a policial “ter cedido ao pedido” da mãe de Fernando e “liberado o responsável em estado de flagrância para ir ao hospital sem escolta ou vigilância”.

Segundo Monique Ratton, a PM deixou de praticar “ato de ofício” ao liberar o motorista, “com infração de dever funcional, gerando prejuízo efetivo ao flagrante e outras provas destes autos”.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo afirmou que a PM instaurou um procedimento para responsabilizar os agentes que atenderam a ocorrência.

Prisão de empresário

O empresário Fernando Sastre de Andrade Filho se apresentou à 5ª Delegacia Seccional na segunda-feira. O mandado de prisão preventiva foi expedido nessa sexta-feira (3/5) pelo desembargador João Augusto Garcia, da 5ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). O magistrado acolheu um recurso do MPSP, apresentado no dia anterior.

A defesa do empresário já entrou com um habeas corpus nesta segunda-feira, no Superior Tribunal de Justiça. A ministra Daniela Teixeira, porém, decidiu levar o julgamento do HC para a Quinta Turma do STJ, que deve analisar o caso na tarde desta terça-feira (7/5).

Anteriormente, juízes de primeira instância haviam recusado três pedidos de prisão contra Fernando Filho – duas delas preventiva e outra temporária (por 30 dias). Ao mandar o empresário para a cadeia, o desembargador também revogou as outras medidas cautelares que haviam sido impostas, como proibição de se aproximar de testemunhas, mas manteve a fiança de R$ 500 mil.

Homicídio

Fernando Filho é réu por homicídio qualificado e lesão corporal gravíssima. Além do motorista de aplicativo que morreu, também ficou gravemente ferido o estudante Marcus Vinicius Machado Rocha, 22 anos, que estava de carona no Porsche.

Marcus fraturou quatro costelas, precisou ser hospitalizado e perdeu o baço. Ele voltou a ser internado no último dia 28 de abril e teve alta nesta segunda-feira (6/5).

Investigação

Laudo do Instituto de Criminalística apontou que a velocidade média do Porsche era de 156 km/h. Quando se apresentou à polícia, contudo, o empresário disse que estava “um pouco acima da velocidade máxima permitida”, que é de 50 km/h na via.

À polícia, o amigo que estava no Porsche disse que Fernando Filho havia ingerido bebida alcóolica antes, contrariando o depoimento do empresário.

Antes do acidente, os amigos e suas respectivas namoradas foram a um restaurante, onde o grupo consumiu nove drinques, e depois a uma casa de pôquer que funciona no esquema open bar.