Vídeo: pastor faz pregação em reunião da PM na Igreja Universal

Notícias e Atualidades

São Paulo — Centenas de policiais militares (PMs) que compareceram nesta terça-feira (25/6) a uma reunião oficial da corporação em um templo da Igreja Universal do Reino de Deus, na zona leste de São Paulo, assistiram à pregação de um pastor evangélico. Diante das tropas do 8º e do 21º batalhões, Roni Negreiros defendeu que, para ter boas relações sociais, inclusive com colegas e comandantes, é preciso ler a Bíblia.

“Para você ter um casamento perfeito, bons filhos, bons relacionamentos sociais, ter diálogo com a sociedade que você convive diariamente, colega de trabalho, comandante, esposa filho, você precisa mudar a cabeça, mudar o racional, mudar os pensamentos. E isso se faz lendo a Bíblia. A Bíblia diz assim, e não é religião não, é a Bíblia: os pensamentos de Deus são mais altos e mais sábios do que o dos homens”, afirmou o pastor.

Assista:

A pregação de Roni Negreiros ocorreu ao final de uma reunião geral do 11º Comando de Policiamento Metropolitano, que compreende o 8º e o 21º batalhões. A presença era obrigatória para “todo o efetivo”, segundo ordem de serviço enviada para as tropas no último dia 18/6.

Antes da fala do pastor, o coronel João Alves Cangerana Junior, comandante do 11º CPA-M, disse que a presença dos policiais no templo não era mais obrigatória a partir daquele momento. A maioria deles, no entanto, permaneceu no local.

1 de 4

Policiais Militares assistem a palestras em templo da Igreja Universal

Arquivo pessoal

2 de 4

Policiais militares chegam para reunião em templo da Igreja Universal

Arquivo Pessoal

3 de 4

PMs reunidos no estacionamento do templo

Arquivo Pessoal

4 de 4

PMs em reunião em templo da Igreja Universal

Arquivo Pessoal

Os PMs assistiram ao “testemunho” de Rony Negreiro, que disse ser ex-policial militar e ter conseguido gerir sua vida de forma superior à capacidade humana após “entender” a presença de Deus. Ao fim de sua fala, o pastor foi aplaudido pelo auditório, que ainda permanecia relativamente cheio.

“Eu, pastor Rony Negreiros, servi à Polícia Militar de São Paulo, por 12 anos, e servi a do Maranhão por 18 anos. Sou pastor de polícia há 21 anos. Mas há 28 anos eu fiz isso. Eu entendi a presença de Deus. E eu consegui gerir a minha vida melhor do que minha própria capacidade humana. Eu peguei os pensamentos de Deus e coloquei dentro da minha cabeça. Estou fazendo isso há 28 anos. Só tenho bons resultados, policial. É meu testemunho para você”, disse ele.

Comandante pede tropa com religião

Durante a reunião, o próprio coronel João Cangerana defendeu a importância de que os policiais tenham uma religião e “louvem os templos”.

“Dentro dessa visão holística, eu entendo também que a gente deva professar alguma religião. Não por uma questão mística — até estamos em um templo, e a gente deve louvar os templos — mas sim a importância da religiosidade para a humanidade. A religião traz valores que são importantes e coadunam com os valores da Polícia Militar. Então também considero importante a saúde espiritual”, afirmou o coronel Cangerana.

“O ser humano não é separado em caixinhas. ‘Ah, saúde física é uma coisa, saúde mental é outra, operacional é outra’. Não. O ser humano é integral. Saúde física, mental, espiritual, financeira, está tudo interligado”, disse ele.

Ouça:

“Reunião sem sentido”

Durante a maior parte da reunião, os policiais militares assistiram a palestras sobre saúde mental, saúde física, manutenção de viaturas, uniformes e até uso de câmeras corporais. As orientações foram genéricas e, segundo PMs, não trouxeram nenhuma informação nova.

“Não tinha nenhuma necessidade dessa reunião, foi sem sentido. Tudo isso poderia ser passado em uma mensagem no WhatsApp. Não tem nada novo”, afirmou um policial militar que esteve na reunião, irritado com a demora.

“É como se tivessem marcado essa reunião para trazer os policiais aqui no templo”, disse um ex-policial que esteve no local.

Folgas perdidas

Outra queixa feita pelos PMs é o fato de que muitos perderam seus dias de folga para comparecer à reunião. A ordem de serviço que convocou o evento disse que apenas os policiais que se encontram em afastamentos regulamentares não precisavam estar presentes.

Para os PMs, a obrigação viola o decreto 52.054 de agosto de 2014, que regulamenta o horário de trabalho dos servidores e estabelece 36 horas contínuas de descanso.

“Como eles querem falar de saúde mental sendo que tem mike [gíria usada para se referir a policiais militares] que tá 12 horas virado do plantão e veio direto para essa reunião?”, questionou um PM.

Reuniões em igrejas

A realização de reuniões da Polícia Militar em igrejas não é novidade em São Paulo. O argumento é que as reuniões gerais dos comandos de policiamento de área reúnem uma quantidade de PMs que não cabe em um batalhão ou em um auditório comum.

No último dia 17/6, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) negou o pedido de uma indenização por danos morais feito por um policial militar católico de 43 anos. Ele entrou com uma ação contra o estado alegando que foi obrigado a participar de reuniões da PM em um templo da Igreja Universal. Segundo o processo, essas reuniões ocorreram durante o governo João Doria.

Reportagem do portal UOL registrou um encontro de policiais militares em um templo da Igreja Universal em julho do ano passado.

O que diz a SSP

Procurada pelo Metrópoles, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou, por meio de nota, que “a Polícia Militar é uma instituição legalista e respeita a liberdade de consciência e de crença de todo o seu efetivo”.

“As dependências do imóvel foram cedidas sem custos à corporação para a apresentação do novo comandante do CPA/M-11. Na ocasião, também foram abordados temas relativos à saúde física e mental dos agentes, bem como as atividades regulares de policiamento”, completa.

Já a Igreja Universal, afirmou, também por meio de nota, que cedeu o templo de forma “totalmente gratuita”, a pedido do 11º Comando de Policiamento Metropolitano de Área.

“A Universal sempre apoiou as forças policiais, como reconhecimento do seu enorme valor na sociedade. E o faz em cumprimento da lei, como prevê a Constituição Federal no seu artigo 144, onde declara que a sociedade tem responsabilidade com a segurança pública”, diz.

“Além disso, por meio do programa social UFP, a igreja presta, há mais de 6 anos, assistência espiritual, social e valorização humana aos integrantes das forças de segurança. Tal esforço inclui a cessão gratuita dos espaços da instituição para realização de eventos da Polícia Militar, sempre que solicitada e quando o local não está sendo utilizado para cultos e eventos da própria Universal”, complementa.