Usar termo em inglês romantiza necessidade de jovens terem 2 empregos

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Em dados, somos, segundo informações atualizadas da PNAD Contínua referentes ao terceiro trimestre de 2023, 544.691 brasileiros que, entre 14 e 29 anos, fazem força no grupo que tem duas ocupações. E não para por aí: 27.907 pessoas, na mesma faixa etária, declararam estarem em três ou mais atividades remuneradas.

Dos números, fatos. Há precarização da mão de obra qualificada, mesmo após um longo período de dedicação, esforço, doação e grana, muita grana, colocada nos livros ou, se melhor me faço entender, nos estudos. Aqui, há alegria e dor, já que para muitos foi a possibilidade de entrar no mercado de trabalho por ter um canudo debaixo do braço. Por outro lado, encarar o fato de não ter o retorno esperado após anos de entrega e gastos.

Somos parte de um ecossistema que vê a carteira de trabalho assinada com baixíssimos salários. Quando não vazia de rubricas, pois não há contratante que pague o que valemos. Aliás, fica difícil pensar sobre nosso valor enquanto dividimos a vida em mais de uma jornada de trabalho diária.

A dúvida não é se conseguimos entregar e sermos ”winners”. A reflexão que sou levado a construir, junto de tantos, é a seguinte: Precisava de tudo isso? Deveríamos sobreviver desta maneira? Mas não posso pensar muito, há um outro trabalho, dos três, me chamando. Em algum lugar haverá erro, sem dúvidas.

Passei a infância assistindo a ”Todo Mundo Odeia o Chris”. Em alguns momentos, eu e muitos amigos sonhamos que a trajetória incrível, mesmo amargurada, era a do Julius, pai do protagonista, multifacetado e com dois empregos. Onisciente, onipresente e, por muito pouco, onipotente.

Mais velho e acometido por problemas de saúde, dá dó pensar que a vida que eu quis nos esgarça. Será que vivemos para ser Julius?