Seca no cerrado é a pior em sete séculos, aponta estudo

Goiás

MEIO AMBIENTE

Aquecimento na região central do país tem sido cerca de 1°C acima da média global

Igor Ricardo

A seca no cerrado brasileiro atingiu níveis históricos, conforme apontado por um estudo recente conduzido por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e publicado na revista Nature Communications. Segundo a pesquisa, essa seca é a pior registrada nos últimos 700 anos, atribuída ao aquecimento global que afeta particularmente a região central do Brasil. As informações são da Agência Fapesp

O estudo revela que as temperaturas na região central do país têm aumentado cerca de 1°C acima da média global, que é de 1,5°C. Esse aquecimento tem causado um distúrbio hidrológico significativo: a temperatura elevada do solo provoca uma evaporação mais rápida da água da chuva antes que ela possa infiltrar no solo. Esse fenômeno altera o padrão de chuvas, que se tornam mais intensas em eventos isolados, e reduz a recarga dos aquíferos, afetando potencialmente o nível dos rios que alimentam o rio São Francisco.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores revisaram dados de temperatura, vazão, precipitação e balanço hidrológico da Estação Meteorológica de Januária, uma das mais antigas de Minas Gerais, além de analisarem as variações na composição química de estalagmites coletadas na Caverna da Onça, no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu.

Francisco William da Cruz Junior, professor do Instituto de Geociências da USP e um dos autores do estudo, destacou que a utilização de dados geológicos permitiu estender a análise da seca para um período de até sete séculos atrás, demonstrando que o cerrado atualmente enfrenta uma seca sem precedentes, cuja origem está diretamente ligada ao desequilíbrio do ciclo hidrológico causado pelo aumento da temperatura global induzido pela atividade humana e emissão de gases do efeito estufa.

Segundo Cruz, o estudo não apenas confirma a severidade da seca atual, mas também aponta para uma tendência de agravamento do fenômeno nas décadas futuras, considerando que o pico do aquecimento global ainda não foi alcançado.

“A mensagem é que não há paralelo com a seca que estamos vivenciando atualmente. É importante frisar que identificamos uma tendência de aumento da temperatura que começa nos anos 1970, mas o fato é que ainda não atingimos o pico de aquecimento. Portanto, a expectativa é que esse fenômeno piore ainda mais”, afirma Cruz.