A “novela” da renovação do lateral-esquerdo Welington segue se arrastando nos bastidores do São Paulo. Segundo apurou a ESPN com diferentes fontes, as dificuldades nas negociações foram geradas por diversos fatores, com o primeiro “capítulo” acontecendo no ano passado – e causando consequências até agora.
Tudo começa no início de 2023, quando, de acordo com várias fontes, o Tricolor não registrou o contrato em vigor de Welington no sistema da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Com isso, o vínculo do ala passaria a expirar em 31 de outubro de 2023 – ou seja: após essa data, ele estaria liberado para deixar o Morumbis de graça como agente livre. Em nota oficial enviada à reportagem (leia completa abaixo), a equipe paulista “refutou com veemência” essa versão e afirmou tratar-se de uma “interpretação equivocada”.
Imagem obtida pela reportagem do termo de rescisão assinado por Welington no processo mostra a data de 31 de outubro de 2023 como final do vínculo do atleta (veja abaixo). O São Paulo reforça, no entanto, que o término do contrato seria mesmo 2024, como divulgado à época no site oficial do clube.
Pessoas ouvidas pela reportagem afirmam que, cerca de três meses antes deste “dia D” (31 de outubro), o jogador foi chamado para conversar com o diretor-executivo de futebol do São Paulo, Rui Costa.
Na reunião, as partes falaram sobre o tema e acertaram, no dia 26 de julho de 2023, uma extensão de contrato até 31 de dezembro de 2024. As fontes apontam que todos os termos do contrato anterior foram mantidos, assim como o salário, que não teve qualquer reajuste.
A ESPN apurou que, à época, Welington topou ficar por ter relação de grande carinho pelo Tricolor, mesmo estando na reserva de Caio Paulista naquele momento. O lateral entrou para a base do clube em 2013 e passou por todos os estágios até chegar ao profissional.
Na reunião pela extensão do vínculo, porém, teria ficado acordado com a diretoria são-paulina que a saída de Welington seria facilitada caso ele recebesse alguma proposta para deixar o Morumbis.
Essa versão também é negada por pessoas ligadas ao São Paulo, que afirmam que seria impossível assumir um compromisso do tipo e ficar “refém” de eventuais ofertas por um jogador.
Mas foi aí que a trama se aprofundou…
Três propostas do exterior
Segundo apuração da reportagem, Welington recebeu não só uma, mas três propostas.
A primeira foi do Besiktas, da Turquia, em 1º de fevereiro: 2,5 milhões de euros fixos, mais 1 milhão de euros em bônus e 20% de uma futura venda. A oferta foi recusada pelo Tricolor.
Em seguida, ocorreu investida do Brentford, da Premier League: 4,5 milhões de euros fixos por 70% dos direitos, mais 1 milhão de euros em bônus e 30% de uma futura venda.
No caso da oferta dos ingleses, houve até uma reunião da cúpula de futebol tricolor, formada por Carlos Belmonte e Rui Costa, com o estafe de Welington. O diretor do Brentford, Lee Dykes, por sua vez, estava na “sala de espera” de uma videoconferência, pronto para apresentar os termos de maneira formal. No entanto, o São Paulo barrou a aproximação, e Dykes sequer chegou a falar com os diretores.
A próxima proposta chegou em 6 de setembro, pouco antes do São Paulo ganhar a Copa do Brasil. Na ocasião, o CSKA Moscou, da Rússia, veio com tudo para fechar com o ala.
O clube russo chegou a fazer três ofertas, a última, após negociação entre as equipes, no valor de US$ 8 milhões – bem superior à da primeira aproximação.
Na ocasião, Welington e seu estafe chegaram até receber passagens cedidas pelo CSKA para ir à Rússia, realizar os exames médicos e assinar com a equipe de Moscou. No entanto, fontes afirmam que o Tricolor entrou em contato com o atleta e seus representantes quatro horas antes do viagem, através de Rui Costa, e afirmou que eles não deveriam viajar. Com isso, o voo foi “abortado”.
Em nota, o São Paulo afirma que “jamais cerceou o atleta” e assegura que “envidou esforços” para que “fosse feita a sua vontade de atuar na Europa, dentro do que fosse também salutar” ao clube. Fontes ligadas à equipe tricolor afirmam que o fracasso do negócio se deveu à desistências dos russos, sem qualquer interferência dos brasileiros. A viagem teria sido cancelada para evitar que Welington chegasse à Rússia sem acerto com o CSKA.
Sem acerto para Welington atuar na Europa, as coisas se complicaram ainda mais ao final da temporada entre jogador e clube.
As conversas para renovar
Perto do Natal do ano passado, uma “bomba” caiu no Morumbis: Caio Paulista acertou sua ida para o rival Palmeiras. Com isso, Welington passou a opção nº 1 para a lateral-esquerda, seguido pelo jovem Patryck Lanza.
De acordo com pessoas ouvidas pela ESPN, porém, o São Paulo ainda demorou para procurar Welington e iniciar as conversas pela renovação, fazendo a primeira proposta apenas no dia 15 de janeiro. Na oferta, veio uma pequena valorização salarial, mas ainda considerada muito baixa pelo estafe do jogador. No vínculo vigente, o lateral recebe R$ 65 mil mensais na carteira.
Com a negativa, as conversas seguiram, com outras duas propostas. A segunda foi bastante similar à primeira, sendo também refutada. Depois, veio ainda uma terceira tentativa, com um aumento mais substancioso. Só que, mais uma vez, o valor foi considerado abaixo das expectativas do lado do atleta.
Em reportagens recentes, foi divulgado que Welington teria pedido um salário mensal de R$ 800 mil para aceitar a renovação. Pessoas próximas ao atleta, porém, negam, também com veemência, a pedida e afirmam que o número que circula na imprensa é “muito exagerado”.
Na nota à ESPN, o Tricolor reforçou “o seu interesse em renovar o seu contrato com o atleta Wellington” e salientou que “nos próximos dias, representantes do atleta e dirigentes do São Paulo voltam a se reunir e o clube pretende tentar chegar em um acordo que seja bom para ambas as partes”.
Fontes, porém, ressaltam que a “quebra de confiança” gerada pelo episódio das três propostas recusadas do exterior complicou bastante as conversas.
Outro fator que desagradou o atleta e seu estafe foi o fato do lateral não ter sido liberado para a disputa do último Sul-Americano sub-20 com a seleção brasileira, no início deste ano, que servia para classificar o Brasil aos Jogos Olímpicos de Paris-2024.
A equipe paulista salienta que “em convocações para seleções brasileiras, o São Paulo sempre defendeu os seus interesses”,” sem qualquer prejuízo aos atletas”.
No entanto, a não ida para o Sul-Americano, as negociações frustradas com clubes europeus e as ofertas salariais abaixo da expectativa seguem travando as tratativas, e o futuro de Welington no Morumbis é muito incerto.
En entrevista recente, o técnico do Tricolor, Luis Zubeldía, disse que estava torcendo pela renovação do jogador, mas fez ressalvas.
”A situação do Wellington é de conhecimento público. Para mim, é um jogador que gosto muito. Não há muitos laterais da característica do Wellington nem aqui e nem no exterior. É um jogador da base e possui boa idade para seguir desenvolvendo seu jogo, sua maturidade à equipe. Eu não sou o Wellington, posso sugerir que ele fique, posso dizer que o São Paulo é uma das equipes mais importantes do mundo, mas no final das contas não posso me meter na decisão do jogador”, disse.
”Eu chego até certo ponto. Conversei com ele, com a diretoria, com vocês, mas fico na torcida por um acordo. Ele tem contrato com o clube até o final do ano, dá tranquilidade, mas o futuro é preciso ser discutido com a diretoria”, completou.
Leia a nota do São Paulo sobre o caso Welington:
O São Paulo Futebol Clube reforça o seu interesse em renovar o seu contrato com o atleta Wellington. Exatamente por isso, o Clube não pretende discutir pontos ou negociar via imprensa. Apenas para deixar claro alguns que foram erroneamente citados em redes sociais.
O São Paulo analisa apenas propostas formais feitas por pessoas devidamente autorizadas.
O Clube refuta, com veemência, a alegação de que o atleta estivesse com alguma precariedade jurídica que permitisse o entendimento de que o contrato legitimamente vigente até hoje, pudesse estar finalizado em meados de outubro de 2023.
Em relação à proposta ofertada pelo CSKA , o São Paulo FC jamais cerceou o atleta e, de sua parte, envidou esforços para que fosse feita a sua vontade de atuar na Europa, dentro do que fosse também salutar ao SPFC.
Em convocações para seleções brasileiras, o SPFC sempre defendeu os seus interesses sem qualquer prejuízo aos atletas ou agiu de maneira irregular junto à CBF.
Nos próximos dias, representantes do atleta e dirigentes do São Paulo voltam a se reunir e o Clube pretende tentar chegar em um acordo que seja bom para ambas as partes.
