pegar o novinho nem sempre basta

Esportes

Enfiamos esporte nessa conta, no qual antes existiam tardes no salão de beleza tentando cobrir os brancos. É o ponto positivo: no lugar de pó descolorante e esmaltes Impala, veio aí o longão do sábado. Mas a linha tênue da saudável descarga de endorfina é despencar em vícios meio exagerados e precisar de mais e mais e mais. O que tem de adulto se arrebentando nos treinos e mesmo assim treinando…

O rebote hoje, com a rede social bombando sob nossos polegares entediados, é um desastre. A vida de absolutamente todo mundo é melhor que a nossa, os jantares dos outros são mais hype, e o envelhecimento menos nítido, sob procedimentos e filtros.

Os corpos deles são mais firmes, porque eles malham todo dia e tiram foto no espelho enquanto a gente abre mão de passar o uniforme das crianças para tentar pelo menos escovar os dentes antes de sair de casa.

As viagens deles são mais caras, a rotina mais plena, a carreira bem-sucedida. Na vida das pessoas que eu sigo, a matemática do tempo se multiplica, enquanto eu só subtraio vendo bobagem na internet. Com um celular na mão em um dia de crise dos 40, abre-se um belo porão no fundo do poço.

Beatriz, no filme, entra numas de se levantar. Vai para a balada, enche a cara, acorda sem se lembrar como foi parar na casa de um moço. Tudo tem um quê vazio enquanto a gente não sente que se basta. Aos 40, também lidamos nitidamente com a finitude de nossos pais e os questionamentos adquirem um novo tom de “por que mesmo?”.

A crise é existencial: quando se menos tempo para viver, dar-se conta de um eventual erro de rota pode despertar uma onda pessimista. Daí a vontade de voltar no tempo.