Paciente com HIV que teve dados vazados cogita abandonar tratamento

Notícias e Atualidades

A gravidade no vazamento de dados de pessoas que fazem o tratamento contra o HIV na rede pública de Saúde do Distrito Federal pode afetar a vida de pacientes que lutam contra o vírus da Aids de forma brutal. João (nome fictício), 40 anos, foi um dos alvos dos criminosos, investigados pela Polícia Civil (PCDF) e pelo Ministério Público do DF (MPDFT) por chantagear as vítimas: caso não realizasse uma transferência no valor de R$ 1 mil ao golpista, teria todas as informações, inclusive a própria sorologia, divulgada para contatos próximos. Com medo de retornar ao Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) , João cogita abandonar o tratamento.

“Meus antibióticos e a medicação do tratamento estão acabando. Mas, estou sem forças psicológicas para retornar a unidade de saúde, para apanhar a medicação”, desabafou.

Segundo João, o CTA conta com excelentes profissionais de saúde. No entanto, o vazamento dos prontuários colocou em xeque a confiança e a credibilidade no sistema de segurança e proteção de dados da Secretaria de Saúde do DF. “Estou sem coragem de voltar na unidade com a médica que me acompanha”, afirmou.

De posse dos dados pessoas de João, bandidos cobraram R$ 1 mil para não divulgar os dados para familiares, amigos e vizinhos. A vítima apresentou denúncia a PCDF. Ele não é o único alvo do grupo criminoso. Pelo menos três vítimas registraram ocorrência.

Veja as mensagens enviadas pelo criminoso:

1 de 5

Bandido diz que teve acesso ao prontuário do paciente

Arte/Metrópoles

2 de 5

Vítima é chantageada

Arte/Metrópoles

3 de 5

Bandido ameaça dizendo que irá divulgar os dados caso não receba R$ 1 mil

Arte/Metrópoles

4 de 5

As ameaças aumentam de intensidade

Arte/Metrópoles

5 de 5

Bandido passa instruções de como deverá ser feito o pagamento

Arte/Metrópoles

 

Localizado entre a 508 e 509, o CTA atende cerca de 5 mil pessoas soropositivas para o HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). No DF, o total de pacientes HIV+ atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) passa de 10 mil. Até quarta-feira (19/6), a extensão do vazamento, a forma de acesso e o ponto da coleta ilegal de laudos de pacientes ainda não haviam sido decifrados pelas autoridades.

Abandono de tratamento

Segundo a médica infectologista Joana D’Arc Gonçalves, pacientes não devem abandonar o tratamento jamais. Para a especialista, o vazamento de prontuários do Sistema Único de Saúde (SUS) é um fato grave, mas o mais importante é comportamento do paciente diante da doença.

“O vazamento não pode ser o motivo de abandono de tratamento. Quem vive com o vírus e está tratando não tem a doença. É uma pessoa saudável. Não representa risco para ninguém. Ao contrário do que muitos pensam, quem tem HIV, hoje, e trata, segundo estudos, vive mais do que a população geral, por causa do autocuidado”, contou.

Para a médica, em vez de abandonar o tratamento, os pacientes precisam levantar as bandeiras do bem-estar e da saúde, proporcionadas pelos antirretrovirais. Sem os cuidados, o prejuízo maior, definitivamente, é para o paciente. “O vazamento é horrível. Ninguém quer ser exposto. Mas temos que entender que HIV é uma doença com tratamento”, disse.

Caso um paciente abandone o tratamento, as consequências e complicações são desastrosas. Há risco de colapso do sistema imunológico, seguida por infecções oportunistas. O vírus toma força e a pessoa evoluiu para quadros comuns vistos nos anos 1980, com evolução do HIV para a Aids, e passa a ter chances aumentadas para óbito e sequelas.

“Abandonar o tratamento não é uma opção. A opção é tratar e se cuidar. E para a gente que cuida da população que tem HIV, é um prazer enorme ver nossos pacientes bem”, reforçou.

PCDF e MPDFT

A 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) abriu inquérito. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) instaurou procedimentos nos âmbitos criminal e cível para apurar o caso.

Segundo o promotor de Justiça Clayton Germano, da 2ª Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus), o MP pretende descobrir a origem do vazamento e responsabilizar os criminosos pela chantagem. Além disso, pretende cobrar a adoção de medidas de segurança para evitar episódios semelhantes.

De acordo com o promotor, as vítimas não devem ceder à chantagem e precisam apresentar denúncia para os órgãos de controle com a maior celeridade possível. Neste sentindo, é importante salvar as mensagens originais e o número usado pelos golpistas para contato.

Secretaria de Saúde

Por meio de nota enviada ao Metrópoles, a Secretaria de Saúde informou que não identificou vazamentos de dados cadastrais e que investigará as denúncias. A apuração será feita pela Controladoria Setorial da Saúde.

A pasta também argumentou que busca constantemente adotar medidas para reforçar a segurança dos dados dos pacientes.