o real é mais inacreditável do que a ficção

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O cenário escancara a miséria e remete aos ambientes domésticos encontrados em contos de Samanta Schweblin, María Fernanda Ampuero, Silvina Ocampo.

Se endividar mesmo depois de morto, por outro lado, soa como metáfora cruel. Nem mesmo na morte poderemos desencanar das finanças, esquecer boletos, ter alguma paz com o banco?

Não bastassem mortos que seguem como fantasmas em contas de redes sociais, agora mais essa. Parece que o negócio de morrer de vez é coisa do passado.

Assim que a notícia de Tio Paulo começou a circular, alguém soltou no Twitter: olha lá a realidade mostrando como é difícil fazer ficção no Brasil. É mesmo, e não só aqui. O caso entra para a coleção de episódios mórbidos que aconteceram num passado mais ou menos recente na América Latina.

Outro dia um torcedor foi às ruas da Argentina para comemorar um título do Racing carregando consigo o crânio do avô. Por lá, também tentaram roubar o coração de Maradona, ousadia que não surpreendeu os leitores de “Santa Evita”, de Tomás Eloy Martínez, romance sobre périplos do corpo de Evita Perón.

São famosos os vídeos em que torcedores lacrados em seus caixões fazem gols de despedida numa pelada ou são levados para estádios. No Peru, um entregador foi flagrado andando pela cidade com uma múmia de mais de 600 anos – era a sua namorada espiritual, justificou o romântico. No Brasil mesmo, em Manaus, durante a pandemia, um sujeito desenterrou a própria avó para bailar com seus restos mortais.