O Papel das ONGs no “novo normal” da Sociedade Pós COVID-19

Saúde e Bem-estar

Este conteúdo foi produzido por 


Larissa Dutra




O Festival da ABCR aconteceu presencialmente no final do mês de junho, depois de dois anos no formato online. O objetivo do evento foi construir pontes e diálogos entre captadores de recursos e doadores, e além da



Phomenta


, outras dezenas de ONGs do país inteiro estiveram presentes. 

Foram dois dias de intensas discussões sobre o contexto no qual estamos, como lidar com as adversidades trazidas para o mundo pós pandemia, e como se manter resistente em todas as perspectivas. 



O cenário atual aponta uma sensação crescente na sociedade: a de que o pior da crise oriunda da pandemia já passou.



Segundo levantamento feito pela Fiocruz, mais de 40% da população acha que a pandemia já terminou, e mais de 70% se sente confortável para estar em grandes aglomerações. Mas quando olhamos para dentro das organizações sociais, o que se apresenta é a continuidade da crise, com o agravante do aumento da instabilidade econômica. 




Na mesa geral no início do evento, as organizações presentes pontuaram como o terceiro setor foi e é fundamental para manter a condição básica de sobrevivência de muitas camadas da sociedade, como é o caso das mulheres.



Segundo a pesquisa do Ipea de 2018, metade dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. E boa parte delas perdeu seus empregos e teve que descobrir novas formas de se manter, e de cuidar dos familiares. Durante a pandemia, o Instituto ainda aponta que  “Os indicadores mostraram que as mulheres seguem em desvantagem em relação aos homens. No segundo trimestre de 2019, a taxa de ocupação delas (46,2%) era inferior à do sexo masculino (64,8%). No mesmo período de 2020, houve redução para 39,7% no caso das mulheres e 58,1% para os homens. Mesmo antes da pandemia, as mulheres já possuíam uma maior chance de mudar da situação de ocupada para inativa e também uma menor chance de entrar na condição de ocupada; no entanto, a crise intensificou ainda mais essas probabilidades.”



O nível de empregabilidade das mulheres no ano de 2022 é igual ao de 30 anos atrás, um retrocesso que tem como consequência uma sociedade mais empobrecida. 




Para Carola Matarazzo do Movimento Bem Maior e palestrante da ABCR 2022,



se por um lado a crise trouxe desafios nunca antes experimentados, por outro ela aponta a oportunidade para que as organizações encontrem na inovação novas formas de existir e se manter.

E é nesse cenário desafiador e cheio de possibilidades que as organizações precisam desenvolver seus planos estratégicos e entender que são fundamentais para a reconstrução da sociedade pós pandemia. 



Papel das ONGs no ápice da crise



No ápice da crise, as ONGs precisaram parar e repensar seu modo de atuar e escolher, entre tantas demandas urgentes, quais seriam as primeiras atendidas. 



As necessidades básicas foram o foco. Milhares de pessoas começaram a se engajar para levar comida para quem teve que largar tudo e ficar em casa para não se contaminar. 



Além disso, as ONGs, que são reconhecidas pelo seu trabalho olho no olho, tiveram que rever toda a sua estrutura. Mas como trabalhar com a captação de recursos sem os encontros? 

Esse foi o maior desafio do Greenpeace, segundo Vivian Fasca, diretora de marketing e captação de recursos da organização, que contou que a organização teve que reformular a sua maneira de abordar potenciais doadores. E o que antes era feito nas ruas, durante a crise, ficou completamente remoto. 



O Greenpeace criou uma verdadeira base de telemarketing para conseguir chegar até os doadores. O formato foi tão bem executado que se espalhou mundo afora. 


E o que ficou nítido durante os encontros promovidos pelo Festival ABCR é que



as ONGs tiveram dois papéis fundamentais: o de conter a calamidade pública e atender as demandas básicas e de se adaptar para continuar com os projetos que não podiam parar. 



E agora? 



Com a vacinação, o isolamento social foi diminuindo, algumas atividades puderam ser retomadas e as necessidades estão mudando. 



Ficou claro como o terceiro setor responde às demandas e desafios sociais mais complexos. E agora, é hora de consolidar tudo que foi projetado durante os anos mais intensos da pandemia. 



Aumentar o uso das tecnologias foi fundamental para poder continuar existindo. Por isso, é importante se manter atualizado e à frente, absorvendo inovação e pensando em estratégias para aumentar o acesso da população à elas. 



Uma das maneiras de pensar o acesso, é envolver os voluntários.



Eles são a melhor ponte entre as ONGs e as pessoas atendidas. E isso destaca que o processo é tão importante quanto o impacto social. 




O papel colaborativo das ONGs também está em destaque e precisa ser planejado e estruturado para se manter. Viver em rede, entender quais outras organizações trabalham com o mesmo foco e na mesma região aumenta as chances de captação de recursos e de impacto social, como afirma Carola Matarazzo ao final da primeira sessão geral do festival “[…] muita coragem e depois, sem dúvida nenhuma, manter o foco na colaboração – não somos concorrentes, somos complementares e interdependentes… Pensar em novas formas de colaboração é tarefa urgente”.




Fontes