Nova faca no pescoço de Haddad – 14/06/2024 – Adriana Fernandes

Esportes

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, colocou uma faca no pescoço do ministro da Fazenda na semana mais difícil para Fernando Haddad desde o início do governo Lula.

Enquanto Haddad enfrentava o desgaste político de ver a devolução da MP (medida provisória) dos créditos do PIS/Cofins com apoio de Lula, Pacheco deixou vazar que iria se antecipar ao Ministério da Fazenda e apresentar, na próxima semana, um projeto de lei complementar para a renegociação da dívida dos estados.

A se confirmar, será um atropelo sem precedentes para Haddad com grande chances de contaminar mais o ambiente de incerteza com os rumos das contas públicas.

O risco fiscal serviu de mote para as cobranças de corte de gastos em contraposição à pauta de Haddad de alta da arrecadação.

No vácuo da Fazenda, Pacheco apostou na fragilidade de Haddad para pressionar o governo a enviar o projeto do governo de renegociação da dívida dos estados.

É o típico caso “se você não envia, faço eu”.

O projeto “alternativo” de Pacheco estava na gaveta desde o ano passado, quando o presidente do Senado colocou a renegociação da dívida de Minas Gerais nos acordos para aprovação de medidas de alta de arrecadação da equipe econômica e a reforma tributária.

Haddad prometeu, em março, que enviaria “nas próximas semanas” o projeto, após reunião com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

O estado de São Paulo –que tem a dívida mais alta, mas boa situação financeira– quer usar a renegociação para abrir espaço para mais investimentos em projetos de infraestrutura.

As obras servirão de vitrine para os planos eleitorais de Tarcísio para uma eventual candidatura à Presidência da República em 2026. São Paulo precisa de ajuda? Não precisa. Mas pegou carona nessa negociação.

O projeto de renegociação prometido por Haddad beneficia, principalmente, quatro estados governados pela oposição (Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas).

A agenda, que era urgente em março, entrou em banho-maria, como mostrou a coluna na semana passada. A suspensão do pagamento da dívida do Rio Grande do Sul, após a tragédia das inundações, reforçou a justificativa para empurrar a apresentação do projeto.

O movimento desagradou Pacheco, que tem interesse político eleitoral envolvido nessa renegociação de Minas.

O projeto de Pacheco é um desastre para as finanças do setor público brasileiro, premiando os estados que não fizeram ajuste nas suas finanças, como Minas, e conseguiram no Supremo Tribunal Federal respaldo para não pagar a dívida com a União.

O projeto de Pacheco cria o programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados junto à União e prevê o uso de créditos que o estado de Minas tem junto ao setor privado para o abatimento de dívidas, além de permitir o desconto da dívida.

O elemento político dificulta as negociações, mas o Ministério da Fazenda também errou ao propor uma renegociação com abatimento vinculada a investimentos em educação. Uma proposta também difícil de ser executada e fiscalizada e que foi recebida com muitas críticas.

O problema maior para Haddad é que está ficando claro que esses estados não querem pagar a dívida, como Rio e Minas. O que fazer quando o devedor não quer pagar a dívida?

E o STF tem culpa no cartório. Deu poder de força para os estados fazerem isso quando permitiu aos governadores não pagar as dívidas.

O mais grave nesse xadrez é que as questões mais urgentes vão sendo desviadas para outra direção. Haddad já está enrolado com o debate de corte de gastos e a compensação da desoneração. Se avançar o projeto de renegociação de dívida nos termos que Pacheco quer, o caldo vai entornar.


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