No BBB24, Fernanda vê Davi como o tipo de negro que os brancos não gostam

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A escravidão de base racista implantada no Brasil pelo colonialismo europeu deixou como herança pensamentos como o da participante Fernanda do Big Brother Brasil, edição 2024. Para a carioca, o lugar de pessoas como Davi é ocupando funções de baixa remuneração e desvalorização social.

Em conversa com a amiga Giovanna Pitel, na madrugada de ontem (28), Fernanda demonstrou seu incômodo com o favoritismo do baiano e sugeriu: “Vai arrumar um emprego de segurança em um prédio, não fod*”.

Na divisão racial do trabalho, o sonho compartilhado inúmeras vezes no programa por Davi de se tornar médico esbarra no imaginário social racista de que pretos e pobres não podem ocupar profissões de prestígio e bons salários.

Da mentalidade racista alimentada pelas memórias da escravidão, passando pela fala “descontraída” e sincera de Fernanda, chegando às práticas excludentes do mercado de trabalho, é formado o ciclo de eliminações ao qual estão sujeitos jovens negros, impedidos de trilhar caminhos de prosperidade profissional e econômica.

Leidy também recebeu ofensas racistas

Na semana passada, o cantor e compositor Manno Góes utilizou sua conta no X (antigo Twitter) para supor o futuro de alguns participantes do BBB24, após a saída do programa. Sobre a trancista Leidy Elin, o autor de sucessos do Carnaval da Bahia sugeriu:

“Talvez seja contratada para trabalhar numa fazenda de Ronaldo Caiado, quem sabe? Todo escravocrata precisa de uma capataz”, escreveu Manno Góes, em referência ao governador de Goiás Ronaldo Caiado (União Brasil), que teve um familiar ruralista incluído em uma lista suja de empregadores flagrados com trabalho escravo pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Após embates com o participante Davi, Leidy sofreu diversos ataques racistas nas redes sociais. Muitos a acusaram de agir como mucama, pela forma que ela tomou partido e defendeu as participantes famosas da edição, Wanessa Camargo e Yasmin contra o motorista de aplicativo.

Mucama e capataz são duas funções típicas da dinâmica colonial escravista direcionada a pessoas negras que gozavam de certa confiança dos proprietários de escravizados.

As mucamas desenvolviam tarefas mais próximas às sinhás na Casa Grande, incluindo a de ama de leite. Já os capatazes agiam na fiscalização do trabalho dos escravizados e impediam as tentativas de fuga, ocupações ainda comuns no país de tantos casos de trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão.

O racismo impede o desenvolvimento do Brasil

Para a coluna, o economista Elias Sampaio, mestre em Economia e doutor em Administração, explicou o quanto essa mentalidade racista, impregnada no inconsciente dos indivíduos e na coletividade, condicionam funções de subalternidade que impedem o crescimento das pessoas negras e o desenvolvimento de todo o país.

“O Brasil é subdesenvolvido por causa do racismo. Antes de ser uma pauta identitária, a questão racial é ‘a’ pauta crucial para o desenvolvimento econômico do Brasil”, defende Elias Sampaio, autor dos livros ‘Dialogando com Celso Furtado’ (Hucitec Editora, 2019) e ‘Política, Economia e Questões Raciais’ (Edifba, 2017).

Sampaio explica que as funções sem valor de mercado, atribuídas a Davi e Leidy como forma de ofensas, se aproximam das mesmas dinâmicas do regime de escravidão.

“Para efetividade do racismo institucional é preciso que haja sempre dois tipos de negros: aqueles que os brancos gostam, que são de confiança e que podem exercer funções dentro das casas, às quais é confiado o cuidado dos filhos e da própria casa e sabem que nada de ruim vai acontecer. E há aqueles que devem ser adestrados para realizar as tarefas no lugar institucionalmente controlado, como é o caso do setor de segurança, os porteiros e mesmo os policiais”.