Neymar é o retrato de um Brasil doente, decadente, reativo e melancólico

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É curioso que quando se fala em crescimento econômico associado ao social a ideia é sempre de que essa região é atrasada e precária e se eu, do alto da minha benevolência, instalar ali meu empreendimento as pessoas finalmente terão trabalho. Que tipo de trabalho não vem ao caso, eles pensam. Mas vem ao caso sim porque estamos falando de trabalhos precarizados servindo aos mimos e às exigências dos milionários que ali se instalarão. Alguém conhece um lugar em que a natureza foi invadida, derrubada e destruída para dar lugar a construções megalomaníacas e onde pessoas trabalharam e melhoraram muito de vida? Ou todas as histórias falam de luxuosos empreendimentos em locais paradisíacos e de uma nova classe de pessoas exploradas trabalhando sem parar e existindo na periferia que nasce com o luxo?

Para além disso, o que leva alguém que já tem dinheiro para ter uma vida de rei mesmo se existir por 200 anos a querer mais. Mais, mais e mais. O que leva alguém com tanta riqueza a seguir destruindo a natureza? Um mínimo interesse para se transformar em uma pessoa melhor faria Neymar entender por que não podemos falar em aberrações como privatizar praias e por que ele deveria estar usando o que ainda resta de seu coeficiente de celebridade para impedir projetos como esse.

Como não joga mais futebol, Neymar gasta seu tempo existindo como gamer e influenciador. Frequentador das redes sociais, tem por esporte responder críticas que recebe assim de bate-pronto. Abre a câmera e, usando toda a sua masculinidade fragilizada, infantilizada e amedrontada, sai vomitando o que passa pela cabeça. Contra Luana Piovani decidiu que seria bacana usar a cartilha do machismo de A a Z: feia, velha, louca, quer alguma coisa comigo, péssima mãe e, a mais grotesca numa lista de aberrações, fazendo sugestão à violência física ao dizer que deveriam colocar um sapato em sua boca. Tudo isso porque Luana fez críticas ao que entendeu ser o apoio dele a um projeto de privatização de praias.

O descontrole do craque é tanto que quando o repórter Diogo Defante fez também uma crítica à privatização de praias sem citar o nome de Neymar, já que o projeto não é dele mas de Flavio Bolsonaro, Neymar reagiu com outro chilique. Bem menos agressivo e grotesco do que fez com Luana, claro. Mas também um chilique.

Houve um dia em que Neymar partia para cima de zagueiros escrevendo poesia com a bola agarrada aos pés. Hoje, parte para cima de mulheres como Piovani e Nath Finanças cometendo insultos com a boca.

Com Nath Finanças, uma economista especializada no orçamento de pessoas de baixa renda que usa as redes sociais para compartilhar conhecimento, Neymar esperneou quando ela fez uma brincadeira associando o nome dele à palavra imposto de renda. “Gente, Neymar na minha DM HOJE implorando pra ajudar a declarar o Imposto de Renda”, ela escreveu.