MPSP vê expansão da lavagem de dinheiro do PCC com empresas de ônibus

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São Paulo — Conhecidas empresas que operam linhas de ônibus na capital paulista entraram na mira do Ministério Público de São Paulo (MPSP) por suspeita de lavarem dinheiro para o Primeiro Comando de Capital (PCC).

Investigações conduzidas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) mostram que a maior facção criminosa do país expandiu nos últimos anos sua participação em grupos que atuam de maneira lícita no transporte coletivo paulistano. Os nomes das empresas são mantidos em sigilo para não prejudicar a apuração.

“Temos mais que indícios que essas empresas estão envolvidas com o PCC, propiciando a lavagem de dinheiro durante muitos anos”, afirma promotor de Justiça Lincoln Gakiya ao Metrópoles.

Ele acrescenta que os novos alvos da investigação do MPSP “são empresas importantes” do transporte público que “participaram e ganharam licitações em regiões importantes” de São Paulo.

Até 2022, ao menos quatro empresas de ônibus que operam nas zonas leste e sul da capital já estavam na mira do MPSP e da Polícia Civil de São Paulo por suspeitas de envolvimento com o PCC.

Duas delas, a Transunião e a Upbus, que operam na zona leste, já foram alvos de operações conduzidas pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e pelo Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), da Polícia Civil.

Alguns dirigentes dessas companhias já foram presos sob acusação de atuarem para a facção e de envolvimento em assassinato na disputa pelo comando das empresas. No caso da Transunião, segundo o Deic, a diretoria é investigada por suspeita de participar da lavagem de dinheiro de familiares de Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, irmão Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder máximo do PCC.  Eles negam envolvimento com o crime organizado.

Já a Upbus, que teve R$ 40 milhões em bens bloqueados pela Justiça em 2022, durante operação do Denarc, tinha entre seus acionistas membros do alto escalão do PCC, como Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, considerado um dos maiores fornecedores de drogas e armas da facção. Ele foi assassinado em 2021.

“Luiz Conta Dinheiro”

A infiltração do PCC em empresas de ônibus voltou ao noticiário no mês passado, com a execução de Luiz dos Santos Rocha, o “Luiz Conta Dinheiro”, apontado pela polícia como tesoureiro da facção.

Ele era funcionário da Imperial, que foi assumida nos últimos anos pela Transunião, e foi assassinado com tiros de fuzil na porta de sua casa em Atibaia, interior paulista, quando chegava em uma saída temporária da cadeira, a chamada saidinha.

O assassinato de Luiz Conta Dinheiro ocorreu em meio ao racha histórico na cúpula do PCC. O motivo teria sido o desvio de R$ 5 milhões da facção, lavados na empresa de ônibus que opera na zona leste.


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Origens

A estratégia do crime organizado lavar o dinheiro do tráfico de drogas por meio de empresas de ônibus surgiu no início dos anos 2000, quando greves no transporte coletivo possibilitaram a entrada de peruas e micro-ônibus no sistema que transporta passageiros na capital e na Grande São Paulo.

Perueiros clandestinos se legalizaram, em cooperativas, por meio de licitações feitas pela Prefeitura entre 2002 e 2003, na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy (PT). Cerca de dez anos depois, as empresas passaram a ser Sociedade Anônima, também por meio de licitações.

“Naquela época, o PCC começou a adquirir peruas, vans, e colocar em linhas de ônibus, participando ativamente de cooperativas, com criminosos infiltrados a mando da facção”, afirma Gakiya, que investiga o PCC há duas décadas e já foi alvo de um plano de sequestro e assassinato da facção, descoberto pela Polícia Federal (PF) no ano passado.

Ele acrescenta que isso começou a ser feio para facilitar a entrada de dinheiro na conta de familiares de membros da organização criminosa, de forma lícita. Depois disso, a facção ampliou a compra de veículos, criando frotas, empresas e, por fim, participando e vencendo licitações.

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