Minha ONG tem uma cultura de inovação?

Saúde e Bem-estar

Você já deve ter ouvido histórias de empresas que criaram produtos e serviços que revolucionaram o mundo com suas iniciativas inovadoras: Google, Facebook, TikTok, Uber, entre outras. Além de saírem na frente com a construção de soluções, elas continuam se reinventando. A pergunta que fica é: qual é o segredo?


Movidos por esse questionamento, os pesquisadores Gerard Tellis, Jaideep Prabhu e Rajesh Chandy mergulharam no tema e estudaram 759 empresas de 17 mercados e concluíram que o fator decisivo para conduzir a

inovações radicais é a cultura dessas organizações. 


A cultura se mostrou determinante em diversos aspectos: mais importante que o capital acumulado, o trabalho que realizavam, o governo vigente ou a cultura do país em que elas estavam sediadas. Essa conclusão nos leva a outras duas perguntas: o que é uma cultura inovadora e, se a organização ainda não a tem, como desenvolvê-la? 


Com base no trabalho desses pesquisadores, Jay Rao (professor de tecnologia e inovação) e Joseph Weintraub (professor de gestão), ambos da Babson College, nos Estados Unidos,

propuseram um modelo que reúne pontos essenciais para desenvolver uma cultura de inovação. Eles criaram uma ferramenta que, por meio de um conjunto de perguntas,  ajuda a analisar a organização de forma completa, mostrando o quanto ela está ligada à ideia de inovação.

Como avaliar se a cultura da ONG é inovadora?


A cultura de uma organização, geralmente, é reflexo da liderança que a conduz. Isso significa que os valores, a forma de tomar decisões, de engajar as pessoas e até a forma como essa liderança se organiza, impacta na maneira com a qual as pessoas que trabalham naquele espaço agem. Sabe aquela sabedoria popular sobre “liderar pelo exemplo” ou “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”? Essa é a tradução perfeita do que acontece na prática.


Considerando esse aspecto, a liderança é o principal agente impulsionador das mudanças que a ONG e de engajamento da organização. Então, se você está lendo isso e quer dar o primeiro passo, aqui estão algumas dicas inspiradas no estudo feito pelos estadunidenses.


A cultura de inovação é estruturada em 6 pilares: valores, comportamentos, clima organizacional, recursos, processos e sucesso. Todos esses pilares estão conectados de forma dinâmica, ou seja, os valores se traduzem em comportamento das pessoas que, por sua vez, são possíveis de se identificar no clima da organização, por exemplo. 


Abaixo, junto da explicação sobre cada pilar, há algumas perguntas que podem te ajudar nesse processo reflexivo sobre a cultura de inovação da sua organização. E aí vai uma dica: escolha um único pilar e faça primeiro esse exercício de forma franca consigo mesma. Depois, converse com sua equipe sobre os pontos que emergirem.


Lembrando sempre, que todas as vozes são importantes e suas contribuições fazem a diferença.

Os pilares de uma cultura inovadora: perguntas avaliadoras


Valores: São como um guia da tomada de decisão e definição de prioridades e decisões, ou seja, como a organização escolhe investir seu tempo e recursos. Os valores também aparecem nas ações dos líderes – não se deixe enganar: o que você faz conta mais do que o que você fala ou escreve. Organizações inovadoras estimulam a capacidade empreendedora de sua equipe, de resolver problemas por conta própria, de criar novos caminhos e de aprender continuamente enquanto trabalham.


Capacidade empreendedora:

  • Sentimos um forte desejo de explorar ideias novas e criar coisas diferentes?
  • Somos bons em lidar com situações incertas e não nos assustamos quando perseguimos novas oportunidades?
  • Conseguimos evitar ficar presos na busca pela perfeição quando encontramos novas chances, preferindo agir de imediato?


Estímulo à criatividade:

  • Incentivamos novas maneiras de resolver problemas e pensamos de forma diferente, aceitando opiniões diversas?
  • O nosso ambiente de trabalho nos dá liberdade para tentar coisas novas?
  • Gostamos de agir espontaneamente e não nos importamos de rir de nossos próprios erros?


Aprendizado contínuo:

  • Sabemos como fazer perguntas para descobrir coisas que não sabemos?
  • Sempre testamos coisas novas quando tentamos inovar?
  • Não ficamos com medo de errar e encaramos os erros como chances de aprender?

Comportamentos: Fala sobre como as pessoas agem para fazer a inovação acontecer. No caso das lideranças,isso significa querer melhorar ou mudar os serviços existentes por outros novos, inspirar a equipe com a ideia do que querem alcançar no futuro juntos e tentar simplificar o trabalho. Uma organização que apoia a inovação procura soluções para problemas de tecnologia, busca ajuda de pessoas e/ou outras organizações para pensar em formas melhores de resolver seus desafios e escuta cuidadosamente o público que se relaciona: parceiros, beneficiários, voluntários e até a comunidade onde está inserida. 


Estímulo ao desafio:

  • Nossa liderança nos anima ao compartilhar uma visão futura e destaca oportunidades para a organização?
  • Nossa liderança nos incentiva frequentemente a pensar e agir como empreendedores?
  • Nossa liderança serve de modelos de comportamento inovador que devemos seguir?


Engajamento:

  • Nossa liderança investe tempo para ensinar e dar feedback sobre nossas tentativas de inovação?
  • Na nossa organização, pessoas de todos os níveis tomam a iniciativa de inovar de forma ativa?
  • Nossa liderança apoia a equipe tanto em momentos de sucesso quanto nos desafios?


Capacitação:

  • Nossa liderança usa maneiras eficazes para nos ajudar a superar obstáculos dentro da organização?
  • Nossa liderança consegue ajustar o caminho quando é necessário?
  • Nossa liderança busca oportunidades mesmo quando enfrentam dificuldades?


Clima organizacional: É o jeito que as pessoas se sentem quando trabalham juntas na organização. Um clima organizacional que encoraja a prática da inovação, promove o entusiasmo, a autorresponsabilidade e comprometimento. Também ajuda as pessoas a se arriscarem em um lugar seguro, onde podem aprender e pensar criticamente sobre as coisas.


Colaboração:

  • Todos nós compartilhamos uma linguagem comum quando se trata de inovação?
  • Valorizamos e aproveitamos as diferenças entre nós na comunidade?
  • Trabalhamos bem juntos como equipe para abraçar as oportunidades?


Compromisso com a integridade:

  • Nós realmente praticamos de forma consistente aquilo que dizemos valorizar?
  • Questionamos decisões e ações que não estão alinhadas com nossos valores?
  • Ficamos à vontade para expressar nossas opiniões, mesmo que elas sejam diferentes ou controversas?


Simplicidade e eliminação de burocracia:

  • Valorizamos medidas que tornam nosso ambiente de trabalho mais simples? Ou seja, com menos regras complicadas, política e burocracia?
  • Cada um assume responsabilidade por suas ações, evitando culpar os outros?
  • Todos sabem como dar início e seguir em frente com iniciativas em toda a organização?


Recursos:
São os elementos para a atividade prática das organizações e podem ser pessoas, sistemas e projetos. Dentre eles, as pessoas são o aspecto mais importante de uma organização, uma vez que elas impactam diretamente na forma como os valores da organização e o clima organizacional se manifestam.


Pessoas:

  • Temos líderes que realmente querem ser impulsionadores da inovação?
  • Podemos contar com pessoas especialistas em inovação que possam nos ajudar em nossos projetos?
  • Temos pessoas talentosas dentro de nossa equipe para fazer nossos projetos de inovação darem certo?


Sistemas:

  • Nossos sistemas de contratação e recrutamento apoiam uma cultura de inovação?
  • Contamos com ferramentas boas para trabalharmos juntos em nossos projetos de inovação?
  • Sabemos aproveitar nossas conexões com fornecedores e parceiros para buscarmos a inovação?


Projetos:

  • As pessoas têm tempo suficiente para se dedicarem a novas ideias?
  • Alocamos recursos especiais para perseguir novas oportunidades?
  • Temos espaços físicos ou virtuais para explorar e desenvolver novas oportunidades?

Processos:
São os caminhos que as inovações seguem quando são criadas. Isso inclui como as ideias novas são encontradas ou escolhidas, e também como os passos são organizados para revisar e priorizar projetos e protótipos.


Processo de geração de ideias:

  • Nós criamos ideias de forma organizada, buscando inspiração em muitas fontes diferentes?
  • Trabalhamos para melhorar e selecionar as ideias mais promissoras?
  • Escolhemos as oportunidades com base em riscos bem entendidos?


Criação de protótipos:

  • Transformamos rapidamente ideias promissoras em protótipos?
  • Mantemos um diálogo constante entre nossa equipe e público atendido para receber feedback?
  • Cancelamos projetos prontamente se eles não atenderem aos critérios pré-definidos?


Implementação de sucesso:

  • Nossos processos são flexíveis e adaptados às situações, sem  burocracias?
  • Colocamos em prática, rapidamente, as ideias mais promissoras?
  • Alocamos recursos rapidamente para iniciativas que mostram muito potencial?


Sucesso: O triunfo de uma inovação pode ser observado nos níveis fora, dentro da organização e individualmente. O externo mostra quanto a organização é reconhecida como inovadora por parceiros, pelo terceiro setor e quanto suas inovações trazem impacto e sustentabilidade para a ONG. Quando a inovação tem sucesso, isso mostra que a organização está no caminho certo com seus valores, jeito de agir e processos criativos.


Parceiros:

  • Nossos parceiros nos veem como inovadores?
  • Nossa inovação é referência para outras organizações como a nossa?
  • Nossos esforços inovadores se traduziram em melhor desempenho financeiro comparado a outras organizações do setor?


Abordagem Estratégica:

  • Encaramos a inovação como parte de uma estratégia de longo prazo, não como uma solução rápida?
  • Temos uma abordagem planejada, ampla e disciplinada para a inovação?
  • Nossos projetos de inovação nos ajudaram a desenvolver habilidades que não tínhamos há três anos?


Nível Individual:

  • Estou satisfeita com o meu envolvimento nas nossas iniciativas inovadoras?
  • Expandimos e fortalecemos, intencionalmente, as habilidades das pessoas por meio de novas iniciativas?
  • Reconhecemos e recompensamos as pessoas por participarem de oportunidades arriscadas, independentemente do resultado?


Tenha ao menos um pilar forte 


Resista a tentação de querer ser excelente em todos os pilares e escolha ao menos um para dedicar o desenvolvimento de sua organização. Os especialistas Jay Rao e Joseph Weintraub descobriram algo interessante sobre as organizações inovadoras: elas sempre escolhem ao menos um pilar como mais importante e sólido entre os seis.


Ao ouvir sua equipe, você não encontrará as mesmas respostas por toda a organização. É natural que perfis diferentes tenham visões distintas de como a inovação acontece.


Depois de fazer o levantamento, a gestão verá os pontos em que a cultura da organização é mais forte e onde ainda precisa melhorar, além disso, a reflexão sobre inovação também indicará ideias e oportunidades de aprendizados para toda a equipe. 


Às vezes, quem está na gestão quer corrigir logo os problemas que encontraram. Mas é melhor focar nos pontos fortes da organização e ir melhorando aos poucos.


Seja paciente, não tente transformar a cultura da organização de uma vez. As culturas mudam lentamente. Quando convidadas a participar, as pessoas geralmente resistem. Demonstrar em ações cotidianas é mais eficiente do que só falar, especialmente quando incentiva as pessoas que estão participando.


Para melhores resultados, busque e celebre as pequenas vitórias. Um jeito prático é pedir para uma ou duas pessoas trabalharem em até 3 ideias identificadas na avaliação com a equipe. Essas pequenas conquistas podem inspirar os outros a melhorarem, criando um círculo virtuoso de melhorias. 


É importante também seguir atenta aos sucessos que a organização teve no passado. Com o passar do tempo, uma ONG que já teve muito êxito pode não perceber novas tecnologias, maneiras diferentes de fazer negócios ou novos concorrentes que aparecem. Existem muitos casos de organizações e empresas que foram pioneiras em inovação, mas ao longo de uma geração, acabaram se tornando burocráticas e sem criatividade.

Trilha de Inovação no Terceiro Setor


Entendendo a importância de trazer inovação para o Terceiro Setor, o Portal do Impacto e o Instituto Bancorbrás uniram forças para criar a Trilha da Inovação. O objetivo da iniciativa é apoiar as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) a aprenderem e experimentarem como trazer inovação para suas ações.


No dia 25 de julho, lançamos a Trilha com um webinar voltado para profissionais, líderes e empreendedores sociais do Terceiro Setor que têm interesse em trazer ideias inovadoras para melhorar a gestão de suas organizações.


Neste webinar, as lideranças da Phomenta e do Instituto Bancorbrás compartilharam os benefícios de ter uma cultura de inovação e experimentação dentro das OSCs.


Se você quiser saber mais sobre como foi essa conversa, acesse este

link para ver o webinar.


A Trilha de Inovação inclui o webinar, um workshop de 6 horas, uma série de textos disponíveis no Portal do Impacto e também um e-book. Fique de olho para saber quando abriremos as inscrições para a próxima turma. As vagas são limitadas, então esteja atenta para garantir seu lugar nessa jornada enriquecedora. Esta é a sua chance de se unir a nós nessa jornada de inovação no Terceiro Setor!