Eduardo Leite e os limites da agenda LGBTQ

Esportes

As políticas defendidas por Leite oprimem as classes mais baixas, onde há uma quantidade imensa de pessoas LGBTQs.

E daí, vocês podem pensar.

E daí que não é por acaso que o Brasil é o país que mais mata LGBTQs no mundo. Isso acontece por causa da brutal desigualdade em que vivemos. Leite pratica a ideologia social conservadora que, nas palavras do economista francês Thomas Piketty, trabalha com a sacralização do mercado, da propriedade e da desigualdade. Sem falar que essa defesa de Deus e da família é a defesa do núcleo que mais massacra jovens gays no Brasil. Uma parcela considerável das pessoas em situação de rua é formada por jovens gays expulso de casa por seus pais em nome de Deus.

As bichas que estão sendo assassinadas no Brasil não são essas que frequentam os mesmos ambientes de Leite e se parecem bastante com ele. Essas vivem num Brasil bastante seguro, com democracia respeitada e amplos direitos sociais. As bichas que estão morrendo são as periféricas. As pobres. As negras. As trans. As travestis. Essas que existem num Brasil sem lei e moram nos locais que alagam antes dos outros e de onde a água sai bem depois dos demais. Locais esquecidos pela agenda com a qual Leite trabalha. Locais onde a água farta só chega para inundar. Onde a luz, quando acaba, demora semanas para voltar e que, com a privatização de serviços básicos, serão definitivamente ignoradas porque, se não dá lucro, para que chegar até esse fim de mundo?

Se declarar orgulhosamente gay e reproduzir a agenda liberal hetero-patriarcal não nos serve de nada. A agenda LGBTQ usada para limpar a barra do fascismo da extrema direita brasileira, aliás, apenas piora a vida da comunidade que segue sendo assassinada, espancada, dilacerada, queimada. A verdadeira luta Queer não se separa da luta dos povos originários, da luta das feministas decoloniais, da luta dos trabalhadores de aplicativos, dos movimentos antirracistas, da ecológica. Estamos falando de uma só luta.

Então, quando vocês escutarem fãs de Eduardo Leite usando sua homossexualidade para reforçar a imagem de homem decente, moderno, inclusivo e justo, saibam que a homossexualidade dele não nos serve para absolutamente nada e que, usada para limpar a barra da violenta agenda liberal, apenas piora nossas vidas. Precisamos estar atentos a essa tentativa de apropriação de uma pauta tão importante por políticos que se declaram aliados mas querem apenas que as coisas continuem como sempre foram.