‘Deu pra quem?’: desmascarando o machismo entre mulheres – 17/06/2024 – Natalia Beauty

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Um comentário recente no meu Instagram revela uma verdade dolorosa: “Quando vocês verem [sic] algo do tipo, pensem o seguinte: essa pessoa deu pra quem? Quem são os pais dessa pessoa? Ela teve ajuda de quem? Foi assim que eu me desiludi desses GRANDES NOMES”.

Esse comentário não só desmerece o esforço e a dedicação de uma mulher bem-sucedida, mas também expõe como a sociedade, inclusive as próprias mulheres, perpetua uma narrativa que diminui nossas conquistas. É uma prova clara de como o machismo está profundamente enraizado, levando as mulheres a se autossabotarem e a reforçarem padrões que as prejudicam.

Quem não deve nada não se preocupa com o ódio. Uso esses comentários como um ponto de partida para discussões importantes com meus seguidores. Não uso máscaras, não sou uma personagem. Quando alguém me critica dessa maneira, sinto-me motivada, pois sei que estou desafiando normas sociais e provocando desconforto em estruturas arcaicas.

O objetivo aqui não é dar visibilidade a esses comentários infundados, mas lamentar que ainda estamos lidando com tais justificativas para o sucesso de mulheres bonitas e bem-sucedidas. É alarmante como esse tipo de pensamento é frequente, insinuando que só podemos alcançar o sucesso por meios questionáveis. Será que nós, mulheres, não somos capazes de conquistar o sucesso por mérito próprio? Sempre precisamos de um homem poderoso para nos abrir as portas?

Confesso que, na minha adolescência, já tive pensamentos semelhantes. Lembro-me de quando uma colega apareceu com um carro novo, e eu imediatamente disse ao meu pai: “Ela deve ter ganhado do pai”. Ele respondeu: “Cuidado com a sua inveja. Não é porque ela tem um carro e você não, que deve justificar isso achando que ela não merece”. Esse episódio me fez refletir profundamente e mudou minha perspectiva para sempre.

Muitos de nossos comportamentos e atitudes são herdados sem questionamento, enraizados em complexos de inferioridade, inveja e desculpas que confortam o ego, além de um machismo histórico. Crenças limitantes ainda permeiam o discurso de muitas mulheres, especialmente quando julgam outras que alcançaram independência financeira, sucesso e protagonismo.

Recebi outro comentário sugerindo que eu já era rica porque meu pai tinha um restaurante, eu tinha um carro e uma mentalidade de rica. A verdade é bem diferente: meu carro estava em busca e apreensão, meu maior objetivo era ganhar pelo menos R$ 4 mil para pagar as contas, e o restaurante do meu pai era a única fonte de renda para sustentar uma família de cinco filhos. Trabalhei lá sem ganhar um centavo. Era um simples self-service no centro de São Paulo, longe do glamour que se imagina.

Precisamos confrontar a realidade de que as mulheres, muitas vezes, são suas próprias inimigas. Quando uma mulher abre caminho e se torna uma referência, deveria inspirar outras a seguir seus passos, não a serem alvos de julgamentos e inveja. Precisamos criar uma corrente de apoio e reconhecimento mútuo para fortalecer a caminhada feminina. Somente assim poderemos desafiar e transformar a mentalidade coletiva, permitindo que mais mulheres alcancem seu próprio protagonismo. Precisamos romper com essa autossabotagem enraizada e construir uma rede de solidariedade e empoderamento, onde o sucesso de uma seja celebrado como uma vitória para todas.

O machismo entre mulheres é autossabotagem. Não deixemos que narrativas preconceituosas nos dividam. A força feminina está em nossa união e reconhecimento mútuo. Cada conquista é um passo para todas nós.

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