Desfalcado na maratona olímpica de Paris, Brasil leva legião à Paratodos – 14/06/2024 – No Corre

Esportes

O Brasil pode ir para a maratona olímpica de Paris desfalcado. Das seis vagas, três para homens, três para mulheres, apenas um atleta garantiu o tempo mínimo, o paulista Daniel Nascimento, o Danielzinho.

Com seu 2:04:51 em Seul, na Coreia do Sul, em 2022, Daniel pulverizou o recorde brasileiro e sul-americano da distância, o 2:06:05 que pertencia ao mineiro Ronaldo da Costa.

Ronaldo havia conquistado a marca em 1998, em Berlim, naquela chegada com direito a cambalhotas e que valeu a ele, à época, o recorde mundial da maratona.

Em Seul, Daniel atingiu a melhor marca da carreira, algo incomum para a pouca idade –23 anos– e para a parca experiência: era apenas a quarta maratona que disputava. A partir daí, tornou-se a eterna esperança brasileira da modalidade.

Faltou, contudo, combinar com os quenianos. E com os etíopes.

Mas de maratonistas amadores em Paris, por outro lado, vamos bem. Os Jogos de 2024 trazem uma novidade, uma prova de 42km para os normais, a “Marathon Pour Tous“, corrida noturna que ocorrerá no mesmo percurso da maratona olímpica, no sábado, 3 de agosto. Cerca de 20 mil pessoas correrão os 42km e também uma prova de 10km.

Apenas um grupo de WhatsApp de brasileiros participantes do evento tem 144 nomes. Mais da metade deles de São Paulo.

Para participar de um sorteio, os sortudos precisaram mostrar à organização que haviam corrido uma meia maratona. A promoção começou em 2021 e durou até o fim deste maio.

Um dos brazucas da “Pour Tous” é Tadeu Guglielmi, 59 anos, paulistano conhecido no circuito amador como “maraturista“. Desde que começou a correr maratonas, em Nova York, há 21 anos, empilhou outras 76. Não é um número muito prodigioso perto dos de outros fetichistas da distância, mas diante da limitação que ele mesmo se impôs, digno de nota.

Tadeu não repete maratonas e, depois de ter coberto todos os continentes, orienta-se principalmente pelo potencial turístico da cidade-sede. Já esteve na China e na Tailândia, no Everest e no Butão, nos polos Norte e Sul, no Kilimanjaro e em Luxor, na Cidade do México e na Ilha de Páscoa, no Lago Ness e em Auckland. E também em Uberlândia, na maratona Nilson Lima, em Porto Alegre e em São Paulo.

Tadeu pretende completar 100 maras, e antes de Paris faz ainda os 42km de Banff, no Canadá, e Anchorage, no Alasca.

Ele não punha muita fé nas próprias chances, havia feito a inscrição aos 46 minutos do segundo tempo, mas quando o e-mail de confirmação chegou, semana passada, saiu correndo de alegria por seu apartamento “como a pequena Miss Sunshine”, como diz.

Curiosamente, Paris não havia entrado ainda na sua relação, apesar do teor saturado de maraturismo da prova da cidade-luz. Na França, Tadeu correu os 42km de Médoc, na região vinícola de Bordeaux, e uma prova de 16K entre Paris e Versalhes.

Economista aposentado, ele anda agora obcecado com a maratona de Boston, uma das que ele quer inserir no seu pacote de 100. Boston exige um índice prévio de performance, hoje de 3:35:00 para quem tem 59 anos. Mas quando fizer 60, no fim de novembro, o negócio fica mamão com mel: o índice passa para 3:50:00.

É um tempo bastante factível para ele, mas se tudo der errado, há ainda a possibilidade de comprar um pacote “charity”, que pode levar a conta de inscrição para os quatro dígitos.

Com as economias que ele diz ter conseguido em sua jornada de 21 anos de maratonas, hospedando-se em hostels e juntando milhas para as passagens aéreas, ele considera se permitir esse luxo.

“Acho que meu investimento nessas 100 maratonas vai ser equivalente à venda de uns dois apartamentos. Mas poderia ser o equivalente à venda de dez.”


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