De panfleto a deepfake: pré-campanhas à Prefeitura travam guerra em SP

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São Paulo – A quatro meses das eleições para a Prefeitura de São Paulo, as ruas da capital ganharam contornos de guerra entre os pré-candidatos por meio de provocações e acusações que já levaram cinco mulheres à delegacia, na quarta-feira (5/6), por distribuírem panfletos da pré-campanha do deputado federal Guilherme Boulos (PSol) com denúncias contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Seguindo a estratégia de polarizar a disputa, os dois líderes das pesquisas optaram por discursos marcados por ofensas pessoais ao respectivo rival por promover uma enxurrada de processos judiciais, apontando eventuais abusos da campanha adversária. A temperatura subiu, e muito, antes mesmo do início da campanha oficial, que começa em 15 de agosto.

O corpo a corpo eleitoral que Nunes e Boulos promovem já nas ruas reflete o clima quente. Na última quinta-feira (6/6), por exemplo, quando o prefeito fez uma visita a um abrigo para moradores de rua da Mooca, na zona leste, Nunes e seu marqueteiro, Duda Lima, chegaram a discutir com pessoas que acompanharam a caminhada e as acusaram de fazer campanha para o rival.

O prefeito se refere a Boulos, que foi coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), como “invasor de terras” e o desqualifica de outras formas. O deputado federal do PSol também opta pelo discurso agressivo contra o rival, o chamando de “prefake”, uma mistura das palavras “prefeito” e “fake“, que em inglês significa “falso”.

Panfletos

Na quarta-feira (5/6), um dia antes de Nunes e Duda Lima baterem boca com moradores, cinco mulheres foram detidas entregando panfletos com denúncias contra o prefeito em frente à estação São Miguel Paulista da CPTM, na zona leste da capital, após a polícia receber uma denúncia de que o grupo descumpria decisão judicial.

O material continha informações que circularam na imprensa sobre supostos esquemas de desvio de dinheiro na gestão Nunes. Ele foi criado pela campanha de Boulos e distribuído à militância e a pré-candidatos da coligação ao longo do mês de maio.


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No entanto, no dia anterior, a Justiça Eleitoral havia determinado que o PT, responsável pela tiragem de 100 mil destes panfletos, cessasse a distribuição. Como a decisão se referia apenas ao PT, a pré-campanha foi às ruas distribuir os mesmos panfletos, mas assinados pelo PSol no expediente.

Foi aberto um inquérito policial para apurar se houve “ação maliciosa e coordenada” de PT e PSol contra a gestão Nunes. Já o PSol acusou a Prefeitura de “uso da máquina” para interromper a panfletagem.

Bate-boca na Câmara

Menos de duas semanas após anunciar a pré-candidatura à Prefeitura da capital paulista, o coach Pablo Marçal já protagonizou embate direto com Boulos na Câmara dos Deputados, também na última quarta (5/6).

Os dois bateram boca durante sessão do Conselho de Ética que arquivou o processo contra o deputado André Janones (Avante-MG) por suposto esquema de rachadinha. Relator do caso e contrário à cassação de Janones, Boulos chamou Marçal de “coach picareta”.

“Espero muito que você não venda a sua candidatura para o Ricardo Nunes. Vá até o fim que eu quero te enfrentar nos debates”, disse o psolista.

Marçal, por sua vez, respondeu que sua candidatura “não está à venda” e disse que Boulos “enterrou” a pré-campanha ao livrar Janones: “Não vai ter segundo turno em São Paulo por causa disso”, declarou.

Deepfake

Em abril deste ano, a deputada Tabata Amaral (PSB) publicou um vídeo em que o rosto de Nunes apareceu substituindo o do ator Ryan Gosling, intérprete do boneco Ken no filme Barbie, para ironizá-lo.

“Eu fiz um vídeo, inclusive, que mostrei aqui, perguntando para as pessoas: ‘Quem é o prefeito de São Paulo?’. Eu falava: ‘Ricardo Nunes’. Todo mundo: ‘Quem?’”, diz Tabata no vídeo.

A técnica de manipulação de áudio ou vídeo que permite a inserção do rosto no corpo de outra pessoa, conhecida como deepfake, é proibida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O post foi apagado e depois republicado sem a deepfake.

Bate-boca nas redes

No mês de março, o deputado federal Kim Kataguiri, pré-candidato pelo União Brasil, discutiu com Tabata pelas redes sociais após acusar tanto a deputada quanto Boulos de “traição” por votarem contra o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil.

“Um verdadeiro estelionato eleitoral. Os deputados Guilherme Boulos e Tabata Amaral endossaram mais essa traição de Lula”, disse Kim à ocasião.

Tabata respondeu dizendo que ele divulgou uma mentira e que a isenção “sequer foi votada”. Na réplica, Kim afirmou que ela e Boulos “não deixaram” que o tema fosse votado.