como lidar com os sentimentos que nos cabem agora

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É um desafio encontrar a medida diante das consequências de um modo de vida desmedido. O que se chama de ansiedade climática pode ser racional e adaptativo para algumas pessoas, mas para outras, perturbador e paralisante, afirma a psicóloga comportamental Lucia Tecuta.

Como psiquiatra, consigo dizer, para quem não foi diretamente afetado por eventos climáticos extremos, que a impossibilidade de pensar em outra coisa, de comer, de dormir, junto de paroxismos de ansiedade como, por exemplo, a sensação de palpitação ou de dificuldade de respirar, podem significar que você precisa procurar ajuda psiquiátrica ou psicológica. Consigo dizer também que se sentir ansioso diante das perspectivas climáticas é o que nos cabe agora, assim como sentir-se triste (a imagem de um cachorro nadando depois de ter sido tirado da água). Consigo dizer que nomear os próprios sentimentos e acolhê-los ajuda.

Ajuda também saber que há muito a ser feito. Ajuda ajudar, tanto no imediato quanto para o depois. Ajuda comemorar as boas notícias, como a aprovação no Senado do projeto de lei 4.129/2021 para que o Brasil se adapte às mudanças climáticas. A jornalista Mariana Belmont reafirma que “o desastre é parte consciente do projeto político de governos negacionistas ou incapazes de se preocupar com a vida das pessoas e das florestas, afinal elas são indissociáveis. Os desastres são fruto de escolhas humanas e de processos políticos de poder.” (Ajuda lembrar que Flavio Bolsonaro foi o único que votou contra o projeto.)

Não consigo mais do que recolher fragmentos, começar a pensar, elaborar o que para mim é o eco de um luto, mas para quem vive ou viveu ou tem parentes no RS, é um luto propriamente dito.

“Apesar de todo o caos e também por causa dele, o mundo ainda é um lugar de maravilhamento, e só podemos esperar que encontremos maneiras de continuar nele pelo menos um pouco mais”, diz o psicanalista Joseph Dodds.

O escritor e analista ambiental Pablo L. C. Casella me diz que, para continuar atuante, engajado, crente, tem se escorado nos princípios dos cuidados paliativos. A biodiversidade, o planeta, a Natureza, diz ele, é como um paciente em cuidados paliativos. Há muito o que se fazer então, e o que se faz pode ser definidor.