Combustível de urânio planejado para novos reatores nos EUA traz risco armamentista, dizem cientistas

Saúde e Bem-estar

Um combustível  especial de urânio para uso na próxima geração de reatores nucleares norte-americanos, traz riscos para a segurança, pois pode ser usado — sem necessidade de enriquecimento adicional — em armas nucleares, disseram cientistas em um artigo publicado nesta quinta-feira.

O combustível chamado urânio de alto teor e baixo enriquecimento, ou Haleu (na sigla em inglês), é enriquecido a até 20%, comparado com os cerca de 5% para o combustível que é usado na maioria dos reatores. Até recentemente, ele era fabricado em quantidades comerciais apenas na Rússia, mas os EUA pretendem produzi-lo para abastecer uma nova leva de reatores.

O governo do presidente norte-americano, Joe Biden, acredita que a energia nuclear, que praticamente não emite gases poluentes, é essencial na luta contra as mudanças climáticas. O Ato de Redução da Inflação, do presidente, separou 700 milhões de dólares para o programa de disponibilização de Haleu, incluindo a compra do combustível, para criar uma cadeia de suprimentos para alguns pequenos reatores modulares e outros mais tecnológicos.

O urânio é um elemento radioativo encontrado na natureza. Para se tornar combustível nuclear, ele passa por um processo que resulta em um material com uma maior concentração do isótopo urânio-235.    “Esse material é diretamente utilizável para fazer armas nucleares, sem qualquer enriquecimento ou reprocessamento adicional”, disse Scott Kemp, um dos cinco autores do artigo, que foi revisado pelos pares e publicado no jornal Science. “Em outras palavras, os novos reatores trazem um risco sem precedentes para a segurança nuclear”, acrescentou ele, que é professor no MIT e ex-conselheiro científico de controle de armas do Departamento de Estado norte-americano.    Uma bomba com potência similar à que os EUA usaram em Hiroshima, no Japão, em 1945, pode ser feita com 1.000 quilos, ou menos, de Haleu enriquecido a 19,75%, informou o artigo. “Desenhar tal arma não seria uma tarefa simples, mas não há quaisquer razões convincentes para crer que ela não poderia ser feita”, disse.    Os autores afirmam que, se o enriquecimento for limitado a 10% a 12%, a cadeia de suprimentos seria muito mais segura, a um custo baixo.    O Departamento de Energia dos EUA calcula que mais de 40 toneladas cúbicas de Haleu podem ser necessárias antes do fim da década, com quantidades adicionais necessárias a cada ano, para lançar os reatores avançados que ajudarão o governo Biden a alcançar a meta de 100% de energia limpa até 2035.    A TerraPower, uma empresa apoiada por Bill Gates e que recebeu financiamento do Departamento de Energia, espera construir sua usina nuclear Natrium, no Wyoming, até 2030, usando Haleu.

Um porta-voz da TerraPower afirmou que a Natrium utilizará o Haleu uma vez que este permite uma produção de energia mais eficiente e reduz o volume de resíduos nucleares. “A TerraPower tem feito da redução dos riscos de armamento um princípio fundamental”, afirmou o porta-voz, acrescentando que o seu ciclo de combustível elimina o risco de proliferação.

A expectativa é que a Natrium inicie a construção da parte não nuclear, mas necessita de autorizações federais para a construção da parte nuclear.