Além de incentivadas a cuidar, somos treinadas para evitar o desagrado

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Um estudo realizado em 2015 pela Universidade de Harvard e conduzido pelos pesquisadores Iris Bohnet, Alexandra van Geen e Max Bazerman, revelou que mulheres que exibem comportamentos assertivos no local de trabalho são frequentemente penalizadas em avaliações de desempenho e menos propensas a receber promoções em comparação com homens que exibem os mesmos comportamentos.

O constante esforço para agradar e a incapacidade de estabelecer limites podem nos levar ao estresse crônico, ansiedade e depressão. Mudar essa dinâmica exige um trabalho consciente para educar meninas e mulheres de maneira diferente das que estamos acostumados a observar. É crucial encorajar a assertividade e ensinar que dizer “não” é um direito fundamental e não algo que deva ser evitado.

Mesmo eu já tendo dito um ‘não’ ao meu importunador, eu me vi amenizando a dor que ele demonstrou sentir quando eu disse que ele havia me machucado com o seu comportamento.

Eu estava tentando ser agradável, respondendo a um condicionamento social profundamente enraizado. Cheguei a minimizar a gravidade do ato e tentei acalmá-lo, como uma forma de autoproteção. E em casos de abuso, mulheres costumam agir assim também numa tentativa de evitar uma escalada da violência.

Pouco depois de trocar algumas mensagens com ele, conversei com uma amiga que havia assistido à cena e que me reforçou que ele havia cometido atos caracterizados como importunação sexual. Virei a chave rapidamente e me senti uma idiota, mas ainda em tempo de gravar uma mensagem reforçando o que ele havia feito, sendo assertiva, estabelecendo limites e caracterizando o que ele fez com todas as letras, reforçando o sentimento de humilhação e desrespeito que eu senti.

Eu me senti leve por não estar mais desejando ser agradável, me senti leve por ter dito tudo o que eu queria ter dito já há muito tempo para muitos outros homens que me feriram. A fala não apaga a dor de quem foi desrespeitada, mas restaura o conhecimento e o limite que precisamos impor para nossa própria dignidade e bem-estar. “Não” é uma frase completa e suficiente em qualquer diálogo.